Por Ary Fernandes
O Carlinhos, que já era nosso conhecido da Maristela, estava recém-casado, e também desempregado. Convidamos então o Carlinhos para fazer a produção do piloto. Mas ainda faltava o principal, o ator que faria o papel do patrulheiro. Eu não queria um ator profissional. Iniciamos os testes com vários atores e até policiais, nos estúdios emprestados de Jacob Mathor.
Os candidatos vestiam a farda, mas nenhum me agradava, não me convencia. Numa noite, em casa, comentei com Ignez, minha esposa, sobre o que estava acontecendo e ela sugeriu fazer um teste com Carlinhos. Na hora achei um absurdo, aquilo não passava pela minha cabeça. Eu via o Carlinhos como homem de produção, não como ator.
No dia seguinte reiniciei os testes, também sem sucesso. Aí, sentei numa banqueta e disse ao Carlinhos que estava quase desistindo, pois não encontrava o perfil que procurava. Nessa hora lembrei do que Ignez havia me dito e disse ao Carlinhos que vestisse a farda, ele estranhou, perguntou: Por que?, eu disse: Vista, quero apenas tirar uma dúvida. Ele concordou, mas a bota era pequena, número 42, e entrou muito apertada no seu pé, que era número 44.
Quando ele colocou a farda, completa, com quepe e blusão, eu disse: Já temos o Patrulheiro Rodoviário. Ele perguntou: Quem é?, eu disse: Você!
Em suma, Ignez, minha esposa foi a responsável pela escolha do Carlinhos para ser o ator da série. Naquele momento eu consegui ver o que a Ignez já havia visto muito antes. Ignez viu Carlinhos fardado em seu pensamento.